segunda-feira, 4 de julho de 2016

Turismo Sexual e Olimpíadas: Quebrando Tabus IV

 Sobre o debate promovido pela Marcha das Vadias, Turismo Sexual e Olimpíadas: Quebrando Tabus

"O risco na prostituição é gozar"
Indianara falou isso quando dizia o que ela reparou sobre si mesma quando entrou pra prostituição. Ela disse que gostava de transar. E as pessoas transam buscando o que? Prazer. Mas nem sempre quando se transa se goza. E quando ela cobrava pra transar, sendo transar algo que ela gostava de fazer, ela podia não gozar sempre, mas ganhava dinheiro sempre. E se gozasse ela ganhava um adicional ao serviço.
Num momento da fala dela ela retomou isso dizendo que transar por dinheiro não tinha nada de mais, não era aquele absurdo ou monstruosidade que as pessoas tanto falavam pra ela. "O risco que uma prostituta enfrenta é gozar." E IMEDIATAMENTE, ato contínuo, ela voltou e disse "não, claro que há riscos, há muita violência, especialmente da polícia, muitas prostitutas são agredidas, violentadas de toda forma, mas o que eu to dizendo é que sempre vou ganhar dinheiro quando transar e que ainda por cima corro o grande risco de gozar".
Eu não entendo como as pessoas pinçam uma fala, não ouvem a fala até o final e fazem esse tipo de acusação que não faz sentido nenhum. A Indianara é prostituta ativista há mais de 20 anos. Ela é uma referencia não é porque ela é bonita e engraçadinha não. É porque a Indianara sempre lutou por melhores condições de vida e trabalho pra pessoas trans e pra prostitutas (cis e trans). A Indianara é jurada de morte em vários lugares do Rio porque denunciou cafetinas e cafetões que exploravam sexualmente pessoas com cobranças e taxas abusivas. Eu mesma já estive com a Indianara em várias situações em que ela defendia pessoas que se prostituem contra violência, tanto de cliente, quanto de namorado, quanto da polícia. É muito bizarro esse tipo de difamação sobre ela porque é uma mentira absurda, que é fruto de má vontade na escuta ou de transfobia mesmo, se a gente quiser colocar pingos nos is. É uma perseguição virulenta contra uma mulher que, por ser travesti, não ser branca e não ter ensino superior não dialoga da mesma forma que vocês querem que ela dialogue. Não fala a linguagem nos signos que vocês aceitam escutar.
Isso é: transfobia, racismo e preconceito de classe.
Esse tipo de estratégia de pinçar falas assim é exatamente o que fazem políticos como o Bolsobosta, Feliciano e Malafaias.


[Publicação original em:  https://www.facebook.com/heloisamelino/posts/10206459539237795 ]

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